Construção de uma cidade medieval |
Cidades mediterrâneas, como Marseille, Arles, Avignon ou Montpellier, rivalizando pela sua audácia com as grandes cidades italianas no comércio de aquém-mar; centros de tráfico, como Laon, Provius, Troyes ou Le Mans; núcleos de indústria têxtil, como Cambrai, Noyon ou Valenciennes; todas demonstraram um ardor, uma vitalidade sem igual.
Obtiveram, além do mais, a simpatia da realeza. Já que as cidades libertas entravam na enfiteuse real, não procuravam elas por este fato, em seu desejo de emancipação, a dupla vantagem de enfraquecer o poder dos senhores feudais e aumentar com isso inesperadamente o domínio real?
Muitas vezes a violência é necessária, e surgem movimentos populares como em Laon e Le Mans. Mas freqüentemente as cidades se libertam por meio de trocas, por tratados sucessivos ou simplesmente a preço de dinheiro.
Aí ainda, como em todos os detalhes da sociedade medieval, a diversidade triunfa, pois a independência pode não ser inteira.
Mapamundi com cidades medievais |
Um exemplo típico é o de Marseille.
O porto e o bairro baixo, que eram repartidos entre os viscondes, foram adquiridos pelos burgueses, quarteirão por quarteirão, e tornaram-se independentes, enquanto que o bairro alto permanecia sob o domínio do bispo e do capítulo, e só uma parte da baía, em frente do porto, ficou propriedade da abadia de São Vítor.
Em todo caso, o que é comum a todas as cidades é a diligência com que procuram fazer confirmar essas preciosas liberdades que adquiriam, e sua pressa em se organizar, escrever seus costumes, regular suas instituições a respeito das necessidades que lhes eram peculiares.
Seus usos diferiam conforme a especialidade de cada uma delas: tecelagem, comércio, metalurgia, aproveitamento do couro, estaleiros e outras.
Fonte: Régine Pernoud, “Lumière du Moyen Âge” - Bernard Grasset Éditeur, Paris, 1944