Depois das surpresas no lago Tana, fomos à Gondar para descobrir uma face diferente da Etiópia. A cidade foi a capital do país no reino do imperador Fasiladas, no século 17. Por estar situada em um importante entroncamento nas rotas de caravanas (entre o Sudão, a África e o Mar Vermelho), Gondar viveu grandes momentos de esplendor. O coração da cidade é o Recinto Real, onde reinam as construções de Fasiladas e de seus descendentes. São castelos, palácios, banhos, arquivos, igrejas e tumbas.
Como tem acontecido frequentemente nessa viagem, entramos no recinto medieval por uma das portas de fundo. Não é apenas o caminho mais curto, mas também o mais misterioso, com passagens estreitas e túneis escuros. Como já tínhamos pago as entradas, não estamos dando uma de penetra.
Nossa primeira descoberta é o Castelo de Mentewab (foto ao lado), construído pelo Imperador Bakaffa, que reinou entre 1721 e 1730.
A cada passo que damos, encontramos uma nova edificação. Se estivéssemos na Europa, perambular por esses castelos seria algo quase normal. Mas, o fato é que estamos na África! Quem poderia imaginar que existem, em plena Etiópia, castelos medievais desse calibre?
Desde 1979, o recinto real em Gondar é considerado como Patrimônio Mundial pela Unesco.
Fasiladas teve um papel predominante no mundo religioso. Tendo entrado em conflito com os portugueses que rondavam a região e depois banido os jesuítas, o imperador fortaleceu a igreja ortodoxa etíope, transformando-a em religião do estado.
O castelo de Fasiladas possui torres nos quatro cantos. O arquiteto indiano combinou vários estilos, entre eles o árabe, o português, o indiano e o etíope de Axum |
A dinastia que seguiu a Fasiladas manteve a capital da Etiópia em Gondar e continuou construindo palácios e igrejas ao redor dos já existentes. A igreja Debre Berhan Selassie, uma das mais antigas e melhor preservadas, teria sido obra de Iyasu I, neto do imperador. Conta uma lenda que o templo estava prestes a ser destruído, durante uma invasão muçulmana, quando um assustador enxame de abelhas pegou os árabes de surpresa. Eles só tiveram uma opção: fugir e deixar a igreja intacta.
Quando entramos no interior, passamos a entender perfeitamente as razões do contra-ataque da rainha das abelhas. Todas as paredes estão finamente decoradas com pinturas que tem, pelo menos, dois séculos de idade (foto abaixo).
O teto de Debre Berhan Selassie é ainda mais impressionante. Querubins, desenhados no espaço entre as vigas que suportam o telhado, parecem estar protegendo os fiéis, com seus olhares arregalados. |
Fonte: www.revistaepoca.globo.com