Com quase mil anos, Tallinn une charme medieval à tecnologia moderna

Mesmo sendo um viajólogo inveterado, eu sempre fazia uma tremenda confusão entre os nomes e as localizações dos três estados Bálticos. Sabia apenas que os pequenos países estavam espremidos entre a Rússia e um mar frio do norte europeu. Os três países Bálticos possuem muita coisa em comum, a começar pela história recente. Fizeram parte, involuntariamente, da União Soviética, a partir de 1940, quando os russos tomaram a região sem encontrar resistência. Independentes em 1991, quando o bloco soviético colapsou, os três passaram a integrar, desde 2004, a União Europeia.
As três nações são pequenas e suas áreas variam entre 45 mil a 65 mil km2, como se fossem do tamanho do Espírito Santo ou da Paraíba. Juntas, elas não chegam a formar nosso Paraná. Suas terras foram habitadas há mais de 10 milênios (logo depois da Era do Gelo), mas gozando de liberdade há apenas 20 anos, os países Bálticos parecem jovens que saem, pela primeira vez, do jugo arrogante de pais autoritários e padrastos abusivos. Estônia, Letônia e Lituânia fervilham!
Mas cada país também tem suas particularidades. O estoniano é um idioma bem diferente dos outros dois, mais proximo ao finlandês e ao húngaro do que ao vizinho lituano, letão ou alemão, todos de origem indo-europeia. Apesar de a Estônia ter a menor área e abrigar a menor população (1,3 milhão de habitantes) sua economia é a de maior lastro. O país ganhou a confiança da União Europeia, foi apelidado de Tigre Báltico e entrou na zona do Euro em janeiro de 2011– privilégio não desfrutado pelos outros dois.
Tallinn, uma joia de cidade, aparece como a mais medieval de todas as capitais bálticas. Desde o século 11, o local às margens do Golfo da Finlândia era usado como mercado por clãs estonianos. Dois séculos mais tarde, a influência germânica fez a vila crescer e se tornar um importante entreposto. Para proteger sua riqueza, Tallinn ganhou fortificações e foi rodeada por um muro de até 15 metros de altura.
Duas das torres medievais no oeste guardam uma das
antigas entradas da cidade, que dá acesso à rua Viru.
Quatro torres na seção norte da fortificação. 
O muro que protegia Tallinn contava com 
46 torres de vigilância.
Hoje, existem apenas 26 torres e quase todas
estão abertas para visitação; as moças de Tallinn
recebem os visitantes vestidas com roupas medievais.
O coração da cidade é a Prefeitura e sua praça central, a Raekoja Plats. Chego no momento de um mercado que vende produtos artesanais. Várias barracas oferecem roupas de linho: calças, camisas e jaquetas, todas confeccionadas com a fibra natural da planta herbácea. Em outras, os produtos são feitos de madeira, particularmente pinheiros.
Este mesmo lugar congrega habitantes há mais de 800 anos. Em 1441, os mercadores da Fraternidade das Cabeças Negras, uma organização comercial e militar com fins lucrativos, replantaram uma enorme conífera no centro da praça. A árvore, ao receber decorações para comemorar o nascimento de Jesus Cristo e ao ser banhada pela neve do inverno teria se transformado na primeira árvore oficial de Natal. Em um dos cantos da praça ainda existe a farmácia Raeapteek, que começou a funcionar em 1422! Considerada como a mais antiga da Europa, aqui eram vendidos produtos à base de abelhas queimadas, poções mágicas com pó de chifre de unicórnio e os mais sigilosos compostos medicinais feitos com mandrágora e outras plantas mágicas. Hoje, Raeapteek oferece as melhores marcas europeias de produtos de beleza.
O mercado semanal em Raekoja Plats dá vida à praça
em frente à Prefeitura de Tallinn. Raeapteek está no
prédio amarelo claro, no canto esquerdo.
Tallinn foi escolhida para ser a Capital Europeia da Cultura de 2011. Mas a cidade é também um polo de vanguarda tecnológico. O software criado para o sistema telefônico Skype foi criado por três estonianos de Tallinn. Na cidade existem 350 pontos públicos Wi-Fi e 700 acessos à internet, quase todos gratuitos. Os motoristas pagam estacionamento via SMS e 98% das transações bancárias são realizadas online.

Fonte: www.revistaepoca.globo.com